Significado de Devaneio: 1. Estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens; 2. Quimeras, fantasias, ficções.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A pergunta dentro daquele profundo silêncio, foi como a inflamação
dum fósforo na escuridão da noite. A noite é ilimitada, enorme, pontilhada
de estrelas. Risca-se o fósforo e todas as estrelas são instantaneamente
abolidas; não há mais distâncias nem profundezas. O universo fica reduzido
a uma pequena caverna luminosa escavada no negrume sólido, povoado de
caras brilhantemente iluminadas, de mãos e corpos, dos objetos próximos
e familiares da vida comum.(Aldous Huxley), no livro "Point Counter Point"


terça-feira, 24 de abril de 2012

Não queria comunicar nada, não tinha nenhuma mensagem.
Queria apenas me ser nas coisas. Ser disfarçado.
Isso que chamam de mimetismo.
Talvez o que chamam de animismo me animava.
E essa mistura gerava um apodrecimento dentro de mim.
Que por sua vez produz uma fermentação.
Essa fermentação exala uma poesia física que corrompe os limites do homem...(Manoel de Barros)

sábado, 21 de abril de 2012

Era uma vez um leitor,
curioso sobre a história dentro de um livro.
Era uma vez um livro,
curioso sobre os olhos daquele leitor.
Era uma vez a história de um.
Era uma vez a história de outro.
Mas porque alguém tinha de dar o braço a torcer,
o livro rendeu-se e começou o primeiro capítulo.
Os livros sempre se rendem:
não é a toa que eles capitulam.(Rita Apoena)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Borboletas de letras

Abri o livro...
cuidadosamente, mas qual...
tarde demais, os poemas escaparam,
nacarados: azuis, vermelhos amarelos,
as asas batendo numa profusão de cores!
 
Rimas, versos brancos, sonetos, trovas.
Delicadas asas, turbilhão de sensações,
palavras em belíssimas evoluções aladas!
 
E me quedei absorta e deslumbrada
pela infinita cor, movimento e paixão,
da letra preta, imóvel sobre o papel branco!(Lenise Marques)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Muita coisa se poderia fazer em favor da poesia:


a – Esfregar pedras na paisagem.

b – Perder a inteligência das coisas para vê-las. (Colhida em Rimbaud)

c – Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.

d – Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos.

e – Peguntar distraído: O que há de você na água?

f – Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua. Por isso as crianças e as putas do jardim a entediam.

g – Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua e de música, cisco de olho, moscas de pensão…

h – Aprender a capinar com enxada cega.

i – Nos dias de lazer, compor um muro podre para caramujos.

j – Deixar os substantivos passarem anos no esterco, deitados de barriga, até que eles possam carrear para o poema um gosto de chão – como cabelos desfeitos no chão – ou como o bule de Braque – áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro – um amarelo grosso de ouro da terra, carvão de folhas.

l – Jogar pedrinhas nim moscas...(Manoel de Barros)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Era uma noite maravilhosa,
uma dessas noites que apenas são possíveis quando somos jovens...
O céu estava tão cheio de estrelas,
tão luminoso,
que quem erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo:
será possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos?
A própria pergunta é pueril,
muito pueril...
mas oxalá, ...,
lha possa inspirar muita vezes!...(Fiódor Dostoiévski)

Quanto desejo de chuvas
E de rebrotos
E de renovos
E de ombros nus
E de amoras
Sobre as raízes descobertas!
....................................................................
....................................................................
Depois eu saía correndo pelos caminhos molhados. (Manoel de Barros)