Quase impossível encontrar alguém, que quer muito se ver.
Resolvo andar para ver se alguém que eu tanto procurava me via,
já que eu não enxergava nada,
tudo se embaralhava, distocia.
Muita gente desesterrada, cada ser que eu nunca mais tinha visto,
me assustava ao andar, pensando em quem será a
próxima aberração ou morto vivo que eu podia encontrar.
Enfim, adentrei num galpão gigante, fui me ver refletida,
para ver se eu me assustava, ou podia assustar alguém.
Tudo certo, meu rosto era o mesmo meu rosto,
só que com algumas modificações, assusta-se quem quizer.
Apesar de eu não ver muito bem, eu procurava, conotava procura.
Ao chegar na porta do galpão, olho a hora: 23:03hs
("Somando" dá 5, que dá 8, que deitado é o infinito),
no mesmo instante eu penso:
- Quanto tempo será que vou demorar para encontrar quem estou procurando?
Era um jogo, participavamos dele, sem comunicação, só instintivamente.
Saio da porta e vou rumo ao contorno da igreja.
Passos acelerados, olhar fixo, reto, concentrado.
Quando dobro a primeira curva para o possível contorno,
eis que surge quem eu procurava ao meu lado,
me acompanhando no caminhar ávido,
fala qualquer coisa ao meu ouvido,
levo um grande e maravilhoso susto.
Eu estava sendo observada, andei no meio das pessoas
para encontrar alguém, e sou encontrada,
belamente encontrada.
Parecia uma sombra me seguindo.
Olho a hora novamente para ver quanto tempo
se passou até que eu fosse encontrada.
23:03 hs ("Somando" dá 5, que dá 8, que deitado é o infinito),
ainda, de novo e mais uma vez.
Não demorou nem um minuto. Medo.
Definitivamente a força do pensamento é extraordinária.
Como se eu fosse um curinga andante invísívil para o desisteressante,
aparecendo só para outros curingas observantes que ali estavam.
Desprevinida fui encontrada, não sabia se estava felicitada
por ser encontrada ou por ter sido abordada daquele jeito tão sublime.
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