Significado de Devaneio: 1. Estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens; 2. Quimeras, fantasias, ficções.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012



O sentido inefável que sonda o primeiro mergulho, não traduz o pensamento... o pensar este entorpecido pelas imagens inolvidáveis que ocupam o espaço, saúdam o desconhecido. Quando a razão está entorpecida, muita coisa não se explica, admira e, admite-se que os significados são cheios de sentimentalidades. O que antes era curioso invade o desconhecido sentido da satisfação. Incríveis manobras da natureza que dá vida ao universo das emoções. Como se nada mais pudesse inferir no interior do ser, no instante em que compactuamos com guardar os segredos do mar, a vida dá sentido ao que antes era apenas observado de longe. O pensamento perpassa veloz e, a voz que sonora doce nas profundezes do eu, alimenta e realiza o sonho do reconhecimento de si. 



Fernanda Mendes.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Não podemos atingir nosso conhecimento
porque o ruído do mundo é ensurdecedor.
Não sabemos que é nossa tarefa diminuir esse ruído
para escutar nossas sinfonias silenciosas.(Fabrício Carpinejar)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Imagem - Alastair Magnaldo

Menino perdido


Lenta infância de onde
como de um pasto comprido
cresce o duro pistilo,
a madeira do homem.

Quem fui? O que fui? O que fomos?

Não há resposta. Passamos.
Não fomos. Èramos. Outros pés,
outras mãos, outros olhos.
Tudo foi mudando folha por folha
na árvore. E em ti? Mudou tua pele,
teu cabelo, tua memória. Aquele não foste.(Pablo Neruda)
Diariamente sufocamos nossos melhores impulsos. É por isso que
nos dá uma dor no coração sempre que lemos aquelas linhas escritas
pela mão de um mestre e as reconhecemos como nossas, como os
tenros brotos que esmagamos porque nos faltava fé para acreditar
em nossas próprias forças, nosso próprio critério de verdade e beleza.
Todo homem, quando se aquieta, quando se torna desesperadamente
honesto consigo mesmo, é capaz de pronunciar verdades profundas.
Derivamos todos da mesma fonte.
Não há mistério sobre a origem das coisas.
Somos todos parte da criação,
todos reais,
todos poetas,
todos músicos;
só nos falta desabrochar, apenas descobrir o que já existe em nós.(Henry Miller)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Sentado sobre uma pedra estava o homem
desenvolvido a moscas.
Ele me disse, soberano:
Estou a jeito de uma lata, de um cabelo, de um
cadarço.
Não tenho mais nenhuma idéia sobre o mundo.
Acho um tanto obtuso ter idéias.
Prefiro fazer vadiagem com letras.
Ao fazer vadiagem com letras, posso ver quanto
é branco o silêncio do orvalho.(Manoel de Barros), em "Retrato do artista quando coisa".

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Bossa de todos os dias




Depois dos versos, cantos e encantos...
ficou teu cheiro em mim, impregnado feito luz...
Como se houvesse mais que fragmentos, lembranças de pensamentos.
O som tinha gosto, e o gosto colorido, pronunciava uma onda de vocábulos reluzentes.
Eterna canção colorida nos ares da minha vida.
O retrato transparente entre letras e luz eterniza os instantes que aproximam a aventura mais bonita...  
olhos contidos, mãos suaves e leves mostrando  formas no infinito...
 buscando admitir que o amor existe: em mim e em ti.

Fernanda Mendes.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Imagem - Pete Revonkorpi

Prefiro o nômade, que foge eternamente e persegue

o vento, porque ele se enriquece, dia após dia,

de servir a um senhor tão vasto.(Antoine de Saint-Exupéry)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A pergunta dentro daquele profundo silêncio, foi como a inflamação
dum fósforo na escuridão da noite. A noite é ilimitada, enorme, pontilhada
de estrelas. Risca-se o fósforo e todas as estrelas são instantaneamente
abolidas; não há mais distâncias nem profundezas. O universo fica reduzido
a uma pequena caverna luminosa escavada no negrume sólido, povoado de
caras brilhantemente iluminadas, de mãos e corpos, dos objetos próximos
e familiares da vida comum.(Aldous Huxley), no livro "Point Counter Point"


terça-feira, 24 de abril de 2012

Não queria comunicar nada, não tinha nenhuma mensagem.
Queria apenas me ser nas coisas. Ser disfarçado.
Isso que chamam de mimetismo.
Talvez o que chamam de animismo me animava.
E essa mistura gerava um apodrecimento dentro de mim.
Que por sua vez produz uma fermentação.
Essa fermentação exala uma poesia física que corrompe os limites do homem...(Manoel de Barros)

sábado, 21 de abril de 2012

Era uma vez um leitor,
curioso sobre a história dentro de um livro.
Era uma vez um livro,
curioso sobre os olhos daquele leitor.
Era uma vez a história de um.
Era uma vez a história de outro.
Mas porque alguém tinha de dar o braço a torcer,
o livro rendeu-se e começou o primeiro capítulo.
Os livros sempre se rendem:
não é a toa que eles capitulam.(Rita Apoena)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Borboletas de letras

Abri o livro...
cuidadosamente, mas qual...
tarde demais, os poemas escaparam,
nacarados: azuis, vermelhos amarelos,
as asas batendo numa profusão de cores!
 
Rimas, versos brancos, sonetos, trovas.
Delicadas asas, turbilhão de sensações,
palavras em belíssimas evoluções aladas!
 
E me quedei absorta e deslumbrada
pela infinita cor, movimento e paixão,
da letra preta, imóvel sobre o papel branco!(Lenise Marques)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Muita coisa se poderia fazer em favor da poesia:


a – Esfregar pedras na paisagem.

b – Perder a inteligência das coisas para vê-las. (Colhida em Rimbaud)

c – Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.

d – Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos.

e – Peguntar distraído: O que há de você na água?

f – Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua. Por isso as crianças e as putas do jardim a entediam.

g – Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua e de música, cisco de olho, moscas de pensão…

h – Aprender a capinar com enxada cega.

i – Nos dias de lazer, compor um muro podre para caramujos.

j – Deixar os substantivos passarem anos no esterco, deitados de barriga, até que eles possam carrear para o poema um gosto de chão – como cabelos desfeitos no chão – ou como o bule de Braque – áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro – um amarelo grosso de ouro da terra, carvão de folhas.

l – Jogar pedrinhas nim moscas...(Manoel de Barros)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Era uma noite maravilhosa,
uma dessas noites que apenas são possíveis quando somos jovens...
O céu estava tão cheio de estrelas,
tão luminoso,
que quem erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo:
será possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos?
A própria pergunta é pueril,
muito pueril...
mas oxalá, ...,
lha possa inspirar muita vezes!...(Fiódor Dostoiévski)

Quanto desejo de chuvas
E de rebrotos
E de renovos
E de ombros nus
E de amoras
Sobre as raízes descobertas!
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Depois eu saía correndo pelos caminhos molhados. (Manoel de Barros)