Eu queria então escovar as palavras
para escutar o primeiro esgar de cada uma.
Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos.
Comecei a fazer isso sentado em minha escrivaninha.
Passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto,
trancado, a escovar palavras. Logo a turma perguntou:
o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto?
Eu respondi a eles, meio entresonhado,
que eu estava encovando palavras, eles acharam que eu não batia bem.
Então eu joguei a escova fora.
(Manoel de Barros)
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