Significado de Devaneio: 1. Estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens; 2. Quimeras, fantasias, ficções.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Tudo Mudou



E tudo mudou...

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service

A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD

A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email

O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também

O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike

Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato

Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...

... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças

Luis Fernando Veríssimo

A Pessoa Errada


Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivência, e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa, que se você for parar pra pensar, é na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho: chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas.Mas nem sempre precisamos das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, fazer loucuras, perder a hora, morrer de amor. A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar, que é para na hora que vocês se encontrarem a entrega seja muito mais verdadeira.A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas, essa pessoa vai tirar seu sono, mas vai te dar em troca uma inesquecível noite de amor. Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar toda a vida esperando você.A pessoa errada tem que aparecer para todo mundo, porque a vida não é certa, nada aqui é certo. O certo mesmo é que temos que viver cada momento, cada segundo amando, sorrindo, chorando, pensando, agindo, querendo e conseguindo. Só assim, é possível chegar aquele momento do dia em que a gente diz: "Graças a Deus, deu tudo certo!", quando na verdade, tudo o que Ele quer, é que a gente encontre a pessoa errada, Para que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente.Nossa missão: Compreender o universo de cada ser humano, respeitar as diferenças, brindar as descobertas, buscar a evolução.

ESTE É O MOTE: VOTE.


Este É o mote votação.

Estamos Todos no Mesmo bote .

Votação .

ESCOLHA Menos o fracote

e votação .

Já Não se votou nenhum Lott ?

Pois votação .

Não anule Nem trote faca .

Votação .

Pelas barbas do Quixote,

vote!

Não Picote o papelote .

Votação .

Tire OS Nomes pote de UM .

Ou fazer Decote .

Mas voto .

Não Passa nd glote ?

Não Faz mal .

Votação .

Voce Ficar em casa ouvindo preferia o Concerto em Dó Maior de

Johann Gottfried Munthel parágrafo Orquestra , Baixo Contínuo e

Fagote ?

Tomando uísque hum ?

Esquece .

Votação .

sacerdote em votação ,

Ou em hotentote .

Mas voto .

Votar me cocote .

( Mas em Iscariote não. )

Mas voto .

Não Pensando Fique aí "ser ou não ".

Vote!

E, se não faltar rima fim, Não se Apague .
Sufrague .






Luis Fernando Veríssimo

Tu e Eu


Somos Diferentes , tu e eu .

Tens forma e Graça

E a Sabedoria de Crescer saber tão

Até dar pé .

E não sei onde Quero Chegar

E para sirvo n Uma Coisa

- Que Não É sei qua !

És de outra pipa

UE e de cripto um.

Tu, lipa

UE, calipto .


Gostas de Tempestade UM SOM

roque lenha

Muito pesado

Prefiro o barroco italiano

e dos Alemães

Mais o leve .

És não Vidrada Lobão

eu sou albônico MAIS.

Tu , a FAO .

Eu, fônico .


És suculenta

selvagem e

Como Uma fruta do Trópico

Eu Já seque

e me resigneiComo socialista utópico um.


Não dezenas Tu nada de MIM

eu Não tenho nada TUE .

Tu, piniquim .

Eu, ropeu .


Gostas daquelas festas

Pior terminam mal e Que Começam .

Gosto de rituais sepulturas

em pertinente o que sou

e, ao mesmo tempo, o antes .

vulto hum hum Corpo Tu és e eu,

és Uma miss, místico UM UE.

Tu, multo .

Eu, carístico .


És Colorida ,

Pouco Aérea um,

E de modo que em ti pensas .

Sou Meio Cinzento ,

Algo rasteiro ,

E para PENSO EM Pi.

Somos UM CADA UM de pano

Uma sã e O outro insano .

Tu, cano .


Eu, clidiano .


Dizes cara nd

o vem que te a cabeça

com coragem e ANIMO.

Hesito Entre Duas Palavras ,

escolho uma terceira

FIM e não o digo Sinônimo .

Tu Não temes o engano

enquanto eu cismo .

Tu, Tano .

Eu, femismo .




Luis Fernando Veríssimo





Eu queria, senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
Que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida circunspecta
e pesada nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei)
Um sentinela do seu leito com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas
Ter um vão para seu camisolão e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro
Meus nichos como bichos engoliriam suas meias-calças,
seus soutiens sem alças, e tirariam
nacos dos seus casacos,
E no meu chão,como trufas, as suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins
Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um pulôver amigo. Bonecas de pano.
Um brinco cigano.Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,senhora, e o seu medo.
E sufocar com agravantes todos os seus amantes.



Luís Fernando Veríssimo

A INVENÇÃO DO "O"

Na era da Pedra Lascada

da Língua Falada

Antes de inventarem uma letra

Que imitava uma lua

Diziam palavras que nada

e nada levava um nada

(Alias, Nem Precisava rua ).

A frase Ficava Estática

De maneira majestática

a grandes falas presumíveis

indizíveis permaneciam

- Imagens invisíveis

um invencíveis distancias .

Vivia - se em Cavernas mentais

NUMA Inércia Dramatica.

Pensar Ir e vir, Nem

Ninguém mudava de Lugar

Que dira de sintática .

Aí inventaram o "O"

E foi Algo portentoso .

Assombroso , maravilhoso .

Tudo Começou a rolar

e um se movimentar .

O Homem Ganhou " horizontes "

e palavras viraram pontes

Hoje e EXISTE uma convicção

sem que A SUA invenção

Não haveria Civilização .

Um dia , Como o raio inaugural

Célula Aquela Sobre no pantanal

Vida Que DEU um Tudo,

Veio o acento agudo .

E o Homem Vitória cantar PoDE.

E Começou a História.

( retóricos Ficamos ain't

Até Pouco gongóricos e um) .




Luis Fernando Veríssimo

ORIGEM FEMININA



Existem várias lendas sobre a origem da Mulher.Uma diz que Deus pôs o primeiro homem a dormir, inaugurando assim a anestesia geral,
tirou uma de suas costelas e com ela fez a primeira mulher.
E que a primeira provação de Eva foi cuidar de Adão e agüentar o seu mau humor,
enquanto ele convalescia da operação.
Uma variante desta lenda diz que Deus,
com seu prazo para a Criação estourado, fez o homem às pressas,
pensando “Depois eu melhoro”, e mais tarde, com tempo,
fez um homem mais bem-acabado, que chamou Mulher, que é “melhor” em aramaico.
Outra lenda diz que Deus fez a mulher primeiro,
e caprichou nas suas formas,
e aparou aqui e tirou dali, e com o que sobrou fez o homem só para não jogar barro fora.
Zeus teria arrancado a mulher de sua própria cabeça.
Alguns povos nórdicos cultivam o mito da Grande Ursa Olga, origem de todas as mulheres do mundo, o que explica o fato das mulheres se enrolarem periodicamente em pêlos de animais, cedendo a um incontrolável impulso atávico, nem que seja só para experimentar, na loja, e depois quase desmaiar com o preço.
Em certas tribos nômades do Meio Oriente ainda se acredita que a mulher foi, originariamente, um camelo, que na ânsia de servir seu mestre de todas as maneiras foi se transformando até adquirir sua forma atual.
No Extremo Oriente existe a lenda de que as mulheres caem do céu, já de kimono.
E em certas partes do Ocidente persiste a crença de que mulher se compra através dos classificados, podendo-se escolher idade, cor da pele e tipo de massagem.
Todas estas lendas, claro, têm pouco a ver com a verdade científica. Hoje se sabe que o Homem é o produto de um processo evolutivo que começou com a primeira ameba a sair do mar primevo, e é o descendente direto de uma linha específica de primatas, tendo passado por várias fases até atingir o seu estágio atual e aí encontrar a Mulher, que ninguém ainda sabe de onde veio.
É certamente ridículo pensar que as mulheres também descendem de macacos. A minha mãe, não!
Uma das teses mais aceitáveis sobre o papel da mulher na evolução do homem é a de que o primeiro encontro entre os dois se deu no período paleolítico, quando um homo-sapiens mas não muito, chamado, possivelmente, Ugh, saiu para caçar e avistou, sentado numa pedra, penteando os cabelos, um ser que lhe provocou o seguinte pensamento, em linguagem de hoje:
”Isso é que é mulher e não aquilo que tenho na caverna”.
Ugh aproximou-se da mulher e, naquele seu jeitão, deu a entender que queria procriar com ela.
”Agh maakgrom grom”, ou coisa parecida. A mulher olhou-o de cima a baixo e desatou a rir.
É preciso lembrar que Ugh, embora fosse até bem apessoado pelos padrões da época, era pouco mais do que um animal aos olhos da mulher. Tinha a testa estreita e as mandíbulas pronunciadas e usava gordura de mamute nos cabelos.


A mulher disse alguma coisa como “Você não se enxerga, não?” e afastou-se, enojada, deixando Ugh desolado. Antes dela desaparecer por completo, Ugh ainda gritou: “Espera uns 10 mil anos pra você ver!”, e de volta à caverna exortou seus companheiros a aprimorarem o processo evolutivo.
Desde então, o objetivo da evolução do homem foi o de proporcionar um par à altura para a mulher, para que, vendo o casal, ninguém dissesse que ela só saía com ele pelo dinheiro, ou para espantar assaltantes.
Se não fosse por aquele encontro fortuito em alguma planície do mundo primitivo, o homem ainda seria o mesmo troglodita desleixado e sem ambição, interessado apenas em caçar e catar seus piolhos, e um fracasso social.
Mas de onde veio a primeira mulher, já que podemos descartar tanto a evolução quanto as fantasias religiosas e mitológicas sobre a criação?
Inclino-me para a tese da origem extraterrena. A mulher viria (isto é pura especulação, claro) de outro planeta.
Venho observando-as durante anos - inclusive casei com uma, para poder estudá-las mais de perto - e julgo ter colecionado provas irrefutáveis de que elas não são deste mundo. Observei que elas não têm os mesmos instintos que nós, e volta e meia são surpreendidas em devaneio, como que captando ordens de outra galáxia, embora disfarcem e digam que só estavam pensando no jantar. Têm uma lógica completamente diferente da nossa. Ultimamente têm tentado dissimular sua peculiaridade, assumindo atitudes masculinas e
fazendo coisas - como dirigir grandes empresas e xingar a mãe do motorista ao lado - impensáveis há alguns anos, o que só aumenta a suspeita de que se trata de uma estratégia para camuflar nossas diferenças, que estavam começando a dar na vista.
Quando comentamos o fato, nos acusam de ser machistas, presos a preconceitos e incapazes de reconhecer seus direitos, ou então roçam a nossa nuca com o nariz, dizendo coisas como “ioink, ioink” que nos deixam arrepiados e sem argumentos.
Claramente combinaram isto. Estão sempre combinando maneiras novas de impedir que se descubra que são alienígenas e têm desígnios próprios para a nossa terra.
É o que fazem, quando vão, todas juntas, ao banheiro, sabendo que não podemos ir atrás para ouvir.
Muitas vezes, mesmo na nossa presença, falam uma linguagem incompreensível que só elas entendem, obviamente um código para transmitir instruções do Planeta Mãe.
E têm seus golpes baixos. Seus truques covardes. Seus olhos laser, claros ou profundamente escuros, suas bocas.
Meu Deus, algumas até sardas no nariz. Seus seios, aqueles mísseis inteligentes. Aquela curva suave da coxa, quando está chegando no quadril, e a Convenção de Genebra não vê isso!
E as armas químicas - perfumes, loções, cremes. São de uma civilização superior, o que podem nossos tacapes contra os seus exércitos de encantos?
Breve dominarão o mundo. Breve saberemos o que elas querem. Se depois de sair este artigo, eu for encontrado morto com sinais de ter sido carinhosamente asfixiado, como um sorriso, minha tese está certa. Se nada me acontecer, sinal de que a tese está certa, mas elas não temem mais o desmascaramento.
O que elas querem, afinal?
Se a mulher realmente veio ao mundo para inspirar o homem a melhorar e ser digno dela, pode ter chegado à conclusão de que falhou, que este velho guerreiro nunca tomará jeito. Continuaremos a ser mulheres com defeito, uma experiência menor num planeta inferior. O que sugere a possibilidade de que, assim como veio, a mulher está pronta a partir, desiludida conosco.
E se for isso que elas conspiram nos banheiros? A retirada? Seríamos abandonados à nossa própria estupidez. Elas levariam as suas filhas e nos deixariam com caras de Ugh.
Posso ver o fim da nossa espécie. Nossos melhores cientistas abandonando tudo e se dedicando a intermináveis testes com a costela, depois de desistir da mulher sintética. Tentando recriar a mágica da criação.
Uma mulher, qualquer mulher, de qualquer jeito! Prometemos que desta vez não as decepcionaremos! Uma mulher! Como é que se faz uma mulher?

Luís Fernando Veríssimo

De Que São Feitos os Dias?



De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inactuais esperanças.

De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
Cecília Meireles, in 'Canções'

Romantismo



Quem tivesse um amor, nesta noite de lua,
para pensar um belo pensamento
e pousá-lo no vento!

Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível -
para se ver chorando, e gostar de chorar,
e adormecer de lágrimas e luar!

Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,
partisse por nuvens, dormente e acordado,
levitando apenas, pelo amor levado...

Quem tivesse um amor, sem dúvida e sem mácula,
sem antes nem depois: verdade e alegoria...
Ah! quem tivesse... (Mas, quem teve? quem teria?)

Cecília Meireles, in 'Mar Absoluto e Outros Poemas'

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'




FALO A LÍNGUA DOS LOUCOS


Quem é que nunca teve um Marcelo, um Felipe, um Ricardo, um Rafael, um Júlio ou um Tiago na vida? Tudo bem pode ser uma Raquel, uma Fernanda, uma Natália, uma Ana, uma Patrícia ou uma Aline...

Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo!

A "fila" anda, a coleção de "figurinhas" cresce, a conta de telefone é sempre altíssima. Mas e ai? O que isso te acrescenta?

Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca logo na sua vida???

Se o tal "amor" é impontual e imprevisível que se dane!

Não adianta: as pessoas são impacientes! São e sempre vão ser! Tem gente que diz que não é... "Eu não sou ansioso, as coisas acontecem quando tem que acontecer".

Mentira! Por dentro todo ser humano é igual: impaciente, sonhador, iludido... Jura de pé junto que não, mas vive sempre em busca da famosa cara metade! Pode dar o nome que quiser: amor, alma gêmea, par perfeito, a outra metade da laranja... No fim dá tudo no mesmo.

Pode soar brega, cafona... Mas é a realidade. Inclusive o assunto "amor" é sempre cafonérrimo. Acredito que o status de cafona surgiu porque a grande maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de viver um grande amor.

Poucas pessoas experimentaram nesta vida a sensação de sonhar acordada, de dormir do lado do telefone, de ter os olhos brilhando, de desfilar com aquele sorriso de borboleta azul estampado no rosto...

Não lembro se foi o "Wando" ou se foi o "Reginaldo Rossi" que disse em uma entrevista que se a Marisa Monte não tivesse optado pelo "Amor I love you" e que se o Caetano não tivesse dito "Tô me sentindo muito sozinho..." eles não venderiam mais nenhum disco. “Não adianta, o público gosta e vibra com o brega”. Não adianta tapar o sol com a peneira. Por mais que você não admita:

- Você ficou triste porque o Leonardo di Caprio morreu em Titanic "e ficou feliz porque a Julia Roberts e o
Richard Gere acabaram juntos em "Uma Linda Mulher".

- Existe pelo menos uma música sertaneja ou um "pagodinho" que te deixe com dor de cotovelo;

- Quando você está solteiro e vê um casal aos beijos e abraços no meio da rua você sente a maior inveja;

- Você já se pegou escrevendo o seu nome e o da pessoa pelo qual você está apaixonada no espelho embaçado do banheiro, ou num pedacinho de papel;

- Você já se viu cantando o mantra "Toca telefone toca" em alguma das sextas-feiras de sua vida, ou qualquer outro dia que seja;

- Você já enfiou os pés pelas mãos alguma vez na vida e se atirou de cabeça numa "relação" sem nem perceber que você mal conhecia a outra pessoa e que com este seu jeito de agir ela te acharia um tremendo louco;

- Você, assim como nos contos de fada, sonha em escutar um dia o tal "E foram felizes para sempre..." Bem, preciso continuar? Ok, acho que não...

Negue o quanto quiser, mas sei que já passou por isso, e se não passou, não sabe o quanto está perdendo...

"O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda chance."

"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos"

Autor: Luiz Fernando Veríssimo

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Pergunto-te Onde se Acha a Minha Vida



Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu.
Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída.
Vão-se as minhas perguntas
aos depósitos do nada.
E a quem é que pergunto?
Em quem penso,
iludida por esperanças hereditárias?
E de cada pergunta minha vai nascendo
a sombra imensa que envolve
a posição dos olhos de quem pensa.
Já não sei mais a diferença de ti,
de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

Epitáfio


Ainda correm lágrimas
pelos teus grisalhos,tristes cabelos,
na terra vã desintegrados,
em pequenas flores tornados.


Todos os dias estás viva,
na soledade pensativa,
ó simples alma grave e pura,
livre de qualquer sepultura!


E não sou mais do que a menina
que a tua antiga sorte ensina.
E caminhamos de mão dada
pelas praias da madrugada.


Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

Lei


O que é preciso é entender a solidão!
O que é preciso é aceitar, mesmo,
a onda amarga que leva os mortos.

O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.
O que é preciso é que os olhos
sejam cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.

O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e Entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual, de desejo e de desespero.


Cecília Meireles, in 'Poemas (1954)'

Sexta - Feira à Noite
Os Homens acariciam o clitóris das esposas
Com Dedos Molhados de saliva.
O Mesmo Que com gesto Todos OS dias
Contam Dinheiro, papéis, Documentos
E nas revistas folheiam
A Vida dos SEUS ídolos .
Sexta - Feira à Noite
Os Homens SUAS esposas penetram
Com tédio e pênis.
O Mesmo Que com tédio Todos OS dias
Enfiam o Carro de garagem nd
O dedo não Nariz
E metem uma Mão no Bolso
Para Coçar o saco .
Sexta - Feira à Noite
Os Homens de ressonam Borco
Enquanto como Mulheres no escuro
Encaram Seu Destino
E sonham com o príncipe encantado .

Viver não dói


"A cada dia que vivo,
mais me convenço de que
o desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-nos do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional."

Ausência


Por muito tempo achei Que Falta É uma Ausência.
E lastimava, ignorante, uma Falta.
Hoje Não uma lastimo.
Não HÁ NA Falta Ausência.
A ausência e Um MIM Estar em.
E sinto-uma branca, Tão Pegada,
aconchegada nsa Meus Braços,
Que rio e Danço e invento exclamações alegres,
PORQUE uma ausência, ESSA Ausência assimilada,
Ninguém rouba um Mais de MIM.

Na noite terrível


Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incômoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado - esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passsados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido
-Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso - e foi afinal o melhor de mim - é que nem os Deuses fazem viver...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse dito as frases que só agora, no meio-sono, elaboro
-Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.
O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Mas poderei levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, com a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.

(Álvaro de Campos)

Nem sempre sou igual


Nem sempre sou igual no que digo e escrevo
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

(Alberto Caeiro)

Há um tempo que é preciso abandonar


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

(Fernando Pessoa)

Como é por dentro outra pessoa


Como É Por Dentro Outra Pessoa
Quem É o Que Sonhar Sabera ?
A alma de outrem É Outro Universo
Com Que Não HÁ Comunicação Possível ,
Com que Não HÁ Verdadeiro Entendimento .
Nada Sabemos da Alma
Senão Nossa Senhora da;
Como São olhares dos Outros ,
São Paulo, São gestos palavras,
Com qualquer uma suposição de semelhança
Não Fundo.

(Fernando Pessoa)

Pluralidade de uma existência


"Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpétuamente me aponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore e até a flor, eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."
(Fernando Pessoa)

Declaração de amor



É esta Uma Confissão de amor :
amo a língua portuguesa .
Ela Não É Fácil . Não maleável é.
E, como Não Foi Profundamente
Pelo pensamento trabalhada ,
É A SUA Tendência de ter um Não
sutilezas e de REAGIR Às Vezes
Pontapé COM UM Verdadeiro
OS contra temerariamente Que
ousam transformá- la linguagem NUMA
de Sentimento e de alerteza .
E de amor .
A Língua Portuguesa É UM Verdadeiro
Para quem escreve desafio .
Sobretudo Para quem escreve Tirando das Coisas
e das Pessoas A primeira capa de superficialismo .
Às Vezes ELA REAGE Diante de hum
Mais pensamento complicado.
Às Vezes se assusta com o imprevisto de frase UMA.
Eu gosto de maneja - la -
Como um gostai de Estar Montada
Num cavalo e Guia- lo Pelas rédeas ,
Às Vezes lentamente , como Pará nsa dar Para sempre
Uma Herança de Língua Já Feita .
Todos NÓS Que escreve -NOS Fazendo atamos
fazer TÚMULO do pensamento
Alguma Coisa Que LHE de vida.
essas dificuldades , NSA, como temos .
Mas não falei do encantamento de lidar
Uma Língua com Que Não Foi aprofundada .
O Que recebi de Herança Não me Chega .
Se eu fosse muda ,
e Não Pudesse Também escrever,
e me perguntassem a quê
Língua pertencer Queria eu,
diria eu: Portuguese , É Preciso Que e Belo.
Mas como Não nasci muda e pude escrever ,
tornou- se claro Absolutamente MIM n.
Que eu em português Mesmo Queria era escrever.
Eu Até Queda Não ter aprendido Outras Línguas :
tão Para quê uma Abordagem Minha
do português virgem fossa e limpida .

(Em " A Descoberta do Mundo ")

Precisa-se


Sendo este um jornal por excelência,
e por excelência dos precisa-se e oferece-se,

vou pôr um anúncio em negrito:
precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente
porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria,
e precisa reparti-la.
Paga-se extraordinariamente bem:
minuto por minuto paga-se com a própria alegria.
É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes,
que até parece que só se as viu depois que tombaram;
precisa-se urgente antes da noite cair
porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais.
Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga
depois que passa o horror do domingo que fere.
Não faz mal que venha uma pessoa triste
porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir
antes que se transforme em drama.
Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo.
Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de prática.
E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros.
Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.


( In "A Descoberta Do Mundo")

A Perfeição



O Que É Que me tranqüiliza Tudo o que existe ,
com EXISTE Uma Precisão absoluta .
Que fazer para O Tamanho De uma cabeça de alfinete
Não Nem transborda Uma fração de milímetro
Além do Tamanho de Uma cabeça de alfinete .
Tudo o que existe de É Uma grande exatidão .
Pena Que É uma parte do Maior Que EXISTE COM ESSA exatidão
nn É Tecnicamente Invisível .
Bom O Que É A Verdade Chega um NÓS UM Como sentido secreto das Coisas .
Terminamos NÓS adivinhando , confusos , a perfeição .
(Em "A Descoberta do Mundo ")

A Lucidez Perigosa

(Google imagens)
Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço.
Além do que: que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis.
Eu consisto, eu consisto, amém.

( In "A Descoberta do Mundo")