Significado de Devaneio: 1. Estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens; 2. Quimeras, fantasias, ficções.

quarta-feira, 31 de março de 2010


"Só se ama o que não se possui completamente". 

Marcel Proust
"O instinto É o olfato do espírito."

Émile de Girardin

Já vi o futuro, e ele é bem parecido com o presente,
apenas um pouco mais longo.

Kehlog Albran

A palavra mágica

Imagem: José Ferraz de Almeida Jr.
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.(Carlos Drummond de Andrade)

Jacek Yerka

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem
que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
(Cecília Meireles)

Mohammad Moniruzzaman

Eu acredito que o uso apropriado
do tempo é este: se você puder,
ajude outras pessoas. Se não, evite
ao menos fazer-lhes mal. Essa é a base
de toda a minha filosofia.
(Dalai Lama)

terça-feira, 30 de março de 2010


Amemos o irregular, o inesperado, o inseguro, o ondulante,
o flexível, o pretensamente frívolo. Permaneçamos curiosos,
e até vivamos por curiosidade. Avancemos algumas vezes a
ignorância e desconfiemos dos pregadores da verdade.
A Verdade maiúscula é o paradigma das nossas ilusões.
Só podemos pretender algumas pequenas verdades de
passagem, rapidamente declaradas, sempre discutidas,
frequentemente esquecidas. Devemos preservar nossa
fragilidade como devemos salvar o inútil. A fragilidade
nos aproxima uns dos outros e o inútil nos permite a
evasão, é a nossa saída de emergência.

Jean Claude Carrière

"Os olhos dos outros nossas prisões,
seus pensamentos nossas gaiolas."

Virginia Woolf

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.


Cecília Meireles

Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente.
Não ousar é perder-se.

Soren Kierkegaard

"Eles dirão que você está na estrada errada, se for a sua."
Antonio Porchia

segunda-feira, 29 de março de 2010

Imagem

Tão brando é o movimento
das estrelas,
da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.
Desenha-se tão pura
como nunca a tiveste,
nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
da terrena aventura.
Como um cristal se aquieta
minha vida no sono,
venturosa e completa.
E teu rosto aprisiono
em grave luz secreta.
Teu silêncio em meu peito
de tal maneira existe,
reconhecido e aceito,
que chego a ficar triste
de vê-lo tão perfeito.
E não pergunto nada.
Espero que amanheça,
e a cor da madrugada
pouse na tua cabeça
uma rosa encarnada.(Cecília Meireles)

A infinita

Vês estas mãos? Mediram
a terra, separaram
os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra,
derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios,
e, no entanto,
quando te percorrem
a ti, pequena,
grão de trigo, andorinha,
não chegam para abarcar-te,
esforçadas alcançam
as palomas gêmeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias de tuas pernas,
enrolam-se na luz de tua cintura.
Para mim és tesouro mais intenso
de imensidão que o mar e seus racimos
e és branca, és azul e extensa como
a terra na vindima.
Nesse território,
de teus pés à tua fronte,
andando, andando, andando,
eu passarei a vida.

(Pablo Neruda)
Hoje à Noite
Até como estrelas
cheiram uma flor de laranjeira. (Paulo Leminski)
Ela nos leva pra longe da realidade...
Nos faz viver de magia...
Ela é pura...
É sonhar com a pessoa amada
Sem nunca ter respirado o ar ofegante
Dos corações ansiosos e constantes...
Siga o traço de uma borboleta no ar...
O cheiro que nunca sentiu antes...
Sinta o que vem de dentro florescer,
Virar jardim em volta dos nossos muros,
Reservas de compaixão
E amantes da alma pela pele.
(Hades Pierrot)

...deveria chamar-te claridade
Pelo modo espontâneo
Franco e aberto
Com que encheste de cor meu mundo escuro...

(Vinícius de Moraes)

O ti que eu adoro em
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O ti que eu adoro em
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas (...)

Manuel Bandeira

De que vale ter voz se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar se o que vivo é menos do que o que sonhei?

Mia Couto

Você é absolutamente único.
Assim como todos os demais.

Margaret Mead

sábado, 27 de março de 2010


"Sejamos como o pássaro pousado por um instante
no ramo mais frágil, que sente tremer o galho
e no entanto canta, porque sabe que tem asas."

Sully Prudhomme

O mundo Não vale o Mundo, Meu Bem.
Eu plantei hum pé-de-sono,
Vinte Roseiras brotaram.
Se me cortei nelas Todas
e se tingiram Todas me
de hum vago Sangue jorrado
AO capricho dos espinhos,
Não Foi culpa de ninguém.
O mundo, Meu Bem, nao vale
uma pena, serena e uma cara
Vale a face torturada.

Carlos Drummond de Andrade

É importante que eu seja luta, êxito,
fim e contradição dos fins.
Aquele que prevê a minha vontade
prevê também os caminhos tortuosos
que precisa seguir.

Nietzsche

sexta-feira, 26 de março de 2010


Imagem: Aaron Jasinski
Não mudamos nem permanecemos os mesmos.
Somos absolutamente livres e absolutamente prefigurados.

Merleau-Ponty


Somos apenas uma sucessão de estados decontínuos com
relação aos códigos dos sinais cotidianos, e a respeito da
qual a fixidez da linguagem nos engana: enquanto
dependemos deste código, concebemos nossa continuidade,
embora apenas vivamos descontínuos; mas esses estados
descontínuos só concernem ao nosso modo de usar ou de
não usar a fixidez da linguagem: ser consciente é usá-la.
Mas de que modo poderemos jamais saber o que
somos quando nos calamos?


Nietzsche

Vim coabitar com os homens
E tentei ser humana.
Em alguns, surpreendi a maldade
Piores que os maus, os imbecis
Não descansam, nem deixam descansar
E tenho lutado para não ficar indignada.
Há um instante em que não tenho mais nome,
Sou todos, também os que calaram.
Animais, plantas, flores são palavras.
E se clareiam em nós, seguem adiante.
Forte, imbatível a palavra, com ressurreições
Nos ossos da alma.
Com o Bem sou poliglota e renasço todos
Os dias, recoberta de eternidade,
Que são as peles das manhãs.
Carlos Nejar


Todo amor é amor a alguma coisa, que se deseja e que
nos falta. O amor não é completude, mas incompletude.
Não fusão, mas busca. O amor é desejo, e desejo é falta.
Mas só há desejo se a falta é percebida. E só há amor se
o desejo se polariza sobre determinado objeto. Comer
porque se tem fome é uma coisa, gostar do que se come,
ou comer do que se gosta, é outra coisa. Desejar uma
mulher, qualquer uma, é uma coisa. Desejar " esta mulher",
é outra. Estaríamos apaixonados, no entanto, se desejássemos,
de uma maneira ou de outra, aquele ou aquela que amamos?
Sem dúvida não. Se nem todo desejo é amor,
todo amor é desejo.

ANDRÉ COMTE SPONVILLE
As coisas sonhadas só têm o lado de cá...
Não se lhes pode ver o outro lado...
Não se pode andar à roda delas...
O mal das coisas da vida
É que as podemos ir olhando
Por todos os lados...
As coisas do sonho só têm
O lado que vemos...
Têm uma só face, como
As nossas almas.

(Fernando Pessoa)
...e, pensando assim...indo de encontro...
...fugindo sempre...tocando o nada...
...mas nada sempre é tudo, que não é nada...
...deixo de encontrar, e passo a buscar,
O que não encontro, e deixo de pensar...
...só para tentar entender, ai piora tudo...
...não entendo...ahh essa é a melhor parte...
...o não entender a busca que toca o nada...
Vo sonhando, seguindo...
...conforme o vento...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Os fatos são sonoros. O que importa são os
silêncios por trás deles.

(Clarice Lispector)
As vezes eu ouço passar o vento,
E só de ouvir o vento passar,
Vale a pena ter nascido.

(Fernando Pessoa)
Desejos são coisas simples:

Andar de mãos dadas no meio da noite,
Fazê-la parecer nunca terminar
Enquanto estrelas travessas nos espiam
Remexendo com suas pontas ligeiras
Nossos corações distraídos;

Colher flores amarelas amadurecidas no campo,
Ataviar seus cabelos longos e leves
Enquanto o vento os toca com suavidade
Embalando nossas secretas
Vontades de perdição eterna...

Sonhos, porém, são mais complexos;
Eu por exemplo sonho te fazer feliz.

Viu como é complexo?

(Oswaldo Antônio Begiato)

terça-feira, 23 de março de 2010


“Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê,
como aquela fé que a gente teve um dia,
me deseja também uma coisa bem bonita,
uma coisa qualquer maravilhosa,
que me faça acreditar em tudo de novo,
que nos faça acreditar em tudo outra vez”
Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 22 de março de 2010


Se eu tenho uma dor, eu não a abandono,
não fujo dela, quero alfabetizá-la,
senão ela corrói as outras lembranças,
adona-se do que não é dela, apossa-se
das alegrias que a antecederam e das
alegrias que estavam por chegar.
Mas há dores analfabetas, arrivistas, que
nos mostram o quanto a própria palavra
pode ser fútil e desnecessária, o quanto
os planos podem nos contrariar, o quanto
somos inexplicavelmente insignificantes.

FABRÍCIO CARPINEJAR

"O amor é uma tentativa de penetrar no íntimo de

outro ser humano, mas só pode ter sucesso

se a rendição for mútua."

Octavio Paz
Por que os donos da vida não me escutam?
Eu só sei que eu não sei por mim!
Sabem por mim as fontes da água,
E eu bailo de ignorâncias inventivas.

(Mário de Andrade)

Jacek Yerka

...deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você
cresceu em mim dum jeito completamente insuspeitado,
assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse
você esperando ver nascer uma plantinha qualquer, pequena,
rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é,
não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas
coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca,
em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou
a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a
pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado
para que você crescesse livremente, você não
cresceria se eu a mantivesse presa
num pequeno vaso.(Caio Fernando Abreu)

Eu preciso muito de você.
Eu quero muito, muito você, aqui de vez em quando
nem que seja muito de vez em quando,
você nem precisa trazer maçãs, nem perguntar se estou melhor.
Você não precisa trazer nada, só você mesmo.
Você nem precisa dizer alguma coisa no telefone
basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio.
Juro como não peço mais que o seu silêncio do outro
lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro.
Mas eu preciso muito muito de você.

'Só preciso de alguns abraços queridos,
a companhia suave,
bate-papos que me façam sorrir,
algum nível de embriaguez e a sincronicidade:
eu e você não acontecemos por uma relação causal,
mas por uma relação de significado,
que ainda estamos trabalhando'

Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro.
Quis tanto dar, tanto receber.
Quis precisar, sem exigências.
E sem solicitações, aceitar o que me era dado.
Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não
daria mais do que dispunha, por limitação humana.
Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim,
quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer,
lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia
— qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê.
Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa.
Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro.
Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.. . .
E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.

"Mas quando desvio meu olho do teu,
dentro de mim guardo sempre teu rosto
e sei que por escolha ou fatalidade, não importa,
estamos tão enredados que seria
impossível recuar para não ir até o fim (...)"

"Ela acreditava em anjo e,
porque acreditava, eles existiam."
(Clarice Lispector)
Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho, dos teus
desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.
Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca
deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia.
“Então, que seja doce.
Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar
entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce.
Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada
do sono ou da insônia, contemplando as partículas
de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo;
repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce
que seja doce e assim por diante.
Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce,
talvez não saiba responder.
Tudo é tão vago como se fosse nada."
"Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir.
Você é meu único laço, cordão umbilical,
ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora.
Te vejo perdendo-se todos os dias
entre essas coisas vivas onde não estou.
Tenho medo de, dia após dia,
cada vez mais não estar no que você vê.
E tanto tempo terá passado, depois,
que tudo se tornará cotidiano
e a minha ausência não terá nenhuma importância.
Serei apenas memória, alívio,
enquanto agora sou uma planta carnívora
exigindo a cada dia uma gota de sangue seu para manter-se viva.
Você rasga devagar o seu pulso com
as unhas para que eu possa beber.
Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor,
e você esquecerá como se esquece
um compromisso sem muita importância.
Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.”

sábado, 20 de março de 2010


Quando não estou
na janela dos teus olhos,
te encontro na janela virtual
e te sinto em algum
ponto do planeta,
através de algo
que não compreendo,
e me transporta
ao incrível prazer
de sentir nossa
conexão metafísica.

Catarina Poeta

Caminhando na rua
tropecei em fragmentos de luz
que saiam do teu caminhar,
luminosa perfeição feita da brisa
de um aroma adocicado,
de uma leveza estonteante.
Teus passos
segui lentamente,
visualizando minha
sombra acompanhar
teus castanhos todos,
teu riso largo,
teus saborosos lábios...
Teu vulto que passa,
É ternura no ar.

Catarina Poeta

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi:
não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

(Pablo Neruda)

sexta-feira, 19 de março de 2010

De repente deu-me vontade de um abraço...
Uma vontade de entrelaço, de proximidade...
de amizade..
sei lá..
Talvez um aconchego que enfatize a vida e
amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
que seja teimoso e ao mesmo tempo forte.
Deu vontade de poder rever saudade
de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço
mas que faça lembrar do carinho,
que surge devagarzinho
da magia da união dos corpos, das auras..sei lá.
Lembrar do calor das mãos
acariciando as costas
a dizer...
"estou aqui".
Lembrar do trançar dos braços,
envolventes e seguros afirmando
"estou com você"...
Lembrar da transfusão de forças
com a suavidade do momento...
sei lá...
abraço...abraço...abraço...
O que importa é a magia desse abraço!
A fusão de energia que harmoniza,
integra tudo, e que se traduz
no cosmo, no tempo e no espaço.
Só sei que agora deu vontade desse abraço!!
Que afaste toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima da alegria,
e acalme o coração...
Que traduza a amizade,
o amor e a emoção.
E para um abraço assim só pude pensar em você...
nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade
que sabe entender o por quê...
nessa vontade desse abraço.

(Vinícius de Moraes)
Imagem:  Remedios Varo
Ninguém avança pela vida em linha reta.
Por vezes, saímos dos trilhos.
Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo
e desaparecemos como pó.
As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem
se sair do mesmo lugar.
No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem
aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver.
Alguns gastam um sem número de vidas no decurso
da sua estadia cá em baixo.
Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam
inelutávelmente para trás, atolados no caminho.
Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de
um homem é para sempre insondável.
É absolutamente impossível que alguém conte a história toda,
por muito limitado que seja o fragmento da
nossa vida que decidamos tratar.(Henry Miller)